o artista/educador pesquisador
marcos costa
Tenho 60 anos e apesar da idade ainda acho difícil definir as coisas que eu mais gosto. Sou múltiplo no que gosto ou faço. Quase toda minha ação está sempre envolvida com a arte, mas além dela, a educação e a política. Assim, nas artes visuais amo a escultura, a videografia, especialmente a pintura e a fotografia. Nas Artes cênicas amo dar meu corpo a um palhaço que já mudou de nome algumas vezes mas sempre é o mesmo. Gosto de criar histórias, de escrever, e transformá-las em ação física. Mas essas histórias sempre têm uma pesquisa. Estudar para desenvolver a ideia cênica e depois dirigir. No teatro além de ator, escritor, diretor, produtor e clown também fui bonequeiro. Minha especialidade em Cultura Africana me parece um pouco pretensiosa embora tenha essa certificação. A cultura africana é muito antiga e vasta e para ser especialista nela levaria mais que uma vida. Acho melhor dizer que estou sempre investigando. Já aprendi um pouco e sempre estou aprendendo cada vez mais. Para mim é essencial saber da cultura dos meus antepassados negros, penso que é o mínimo que eu posso fazer por tudo aquilo que eles passaram para que eu chegasse até aqui. A música também é uma loucura na minha vida. Está no meu sangue e vem dos tios, avós e da minha mãe. Todo mundo era meio artista na família dela. Isso foi naquele tempo em que se cantava ao vivo nas rádios do país. Não me tornei um profissional mas já fiz e faço canto, e consigo tirar sons de instrumentos percussivos, compor música com softwares, além de ser um ótimo ouvinte dessa arte. Me especializei também em metodologia para ensino das artes e em educação especial, formação que já me deu muito embasamento para fazer arte com PCD. Já fui cabeleireiro e maquiador, por 17 anos, já fiz dança e fui até manequim. É coisa de louco mesmo. Porém tem uma coisa que está na frente de tudo. Aliás, foi ocupando esse lugar conforme eu fui aprendendo a interpretar esse mundo e a percebê-lo na sua essência. Ler e estudar. Dedicar um tempo pro conhecimento. Consegui ir pra faculdade aos 38 anos. Parece tarde mas eu fiquei lá por inteiro. Com a idade a prioridade passa a ser outra. Não fui um estudante passivo, muito pelo contrário, o fato de ser negro numa universidade totalmente eurocêntrica e de maioria branca me deixou indignado. Fui atrás do meu interesse que é a cultura negra e afro-brasileira e todo o meu trabalho e minha arte acabou sendo pautada por essa temática. Fui fazer também faculdade de Artes Visuais e nessa área estudei cinema, a ilustração, a fotografia, animação gráfica e web designer. Fiz Licenciatura em Artes e Faculdade de Pedagogia. Depois de tudo isso, taí a razão de me definir como múltiplo. Artista cênico-visual, arte-educador, produtor cultural e pesquisador. Atualmente sou doutorando em Comunicação e Desenvolvimento Humano pela Universidade Lusófona do Porto – Portugal. Eu vi nesse curso a chave que tanto procurava, ou seja a comunicação. Me defino agora como “Artivista” Artivismo é o nome dado a ações sociais e políticas, produzidas por pessoas ou coletivos, que se valem de estratégias artísticas, estéticas ou concomitantes para amplificar, sensibilizar e problematizar, para a sociedade, causas e reivindicações sociais. Para mim as artes também são linguagens para o enfrentamento ao racismo que, infelizmente, ainda está tão presente em nosso cotidiano. São 20 anos onde projetos culturais e pesquisas científicas foram sendo realizadas. Construções artísticas visando a visibilidade e a importância da gente negra desse país. Soma-se a isso minha própria ação de artista enquanto pessoa negra.
